quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Otávio, o livreiro do Alemão


O Complexo do Alemão é o maior conjunto de favelas da zona norte do Rio de Janeiro, Brasil. Apesar de ser uma zona pobre e com óbvias dificuldades, existem planos para a construção de uma biblioteca. Até lá, Otávio encarrega-se de promover a leitura entre a comunidade.
"Há cinco anos que ele próprio é uma biblioteca ambulante, trepando por estas favelas com uma caixa de livros. Numa porta alguém pintou boas-vindas. É aí que está o barraco-sede do projecto de Otávio: "Ler é 10", como quem diz nota máxima. Aqui ficam guardadas as caixas de livros e volta-e-meia há actividades.
«Eu tinha nove anos e passei por uma lixeira próxima a um campinho de futebol. Vi um saco de brinquedos e um livro, 'Dom Gaton', um reconto espanhol. Hoje eu fico pensando porque não fui nos brinquedos e fui no livro. Esse livro estava lá para mudar a minha vida. Nessa noite, a luz acabou e começou a chover. Quando terminei de ler, parou de chover e voltou a luz. Foi como se eu fosse viajando naquele universo de encantamento e depois voltasse à realidade. Nunca tinha tido aquela sensação de liberdade, de magia. E depois que passei a ter contacto com os livros a minha imaginação deu um salto. Hoje eu escrevo contos, roteiros, mas a minha obra é 'Ler é 10', sair de manhã com uma mala cheia de livros e num lugar como esse colocar um tapete e começar a contar histórias para as crianças.»
Otávio soma as crianças que o projecto alcançou: «Até hoje foram mais de 10 mil, entre a Penha e o Alemão. Temos o Casa-Biblioteca, em que vamos no barraco da pessoa, levamos livros, fazemos actividades, e a pessoa fica responsável por chamar as crianças. Temos o Biblioteca Móvel, em que montamos uma tenda com 400 livros na praça e chamamos as crianças. Eu mesmo monto a tenda.»
«Dentro das caixas, aqui dentro, temos poesia, contos, quadrinhos [BD] nacionais e internacionais, revistas. São doações de autores e editoras.» Autores favoritos de Otávio: Carlos Drummond de Andrade, Rubem Fonseca, Pablo Neruda. Isto além dos livros infantis. «Por semana chego a ler 10 ou 15 livros infantis, enquanto que livros para adultos são só um ou dois por mês.»  
 

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