terça-feira, 12 de julho de 2011

Alunos portugueses já compreendem melhor o que lêem

Cerca de 18 por cento dos alunos portugueses com 15 anos têm sérias dificuldades na leitura, apenas conseguindo responder neste domínio às questões mais básicas como, por exemplo, identificar qual é o tema principal de um texto. Um estudo realizado pela rede Eurydice, que foi divulgado hoje pela Comissão Europeia, dá conta, contudo, que os alunos portugueses estão abaixo da média da União Europeia, o que neste caso é uma boa notícia.
Portugal melhorou os resultados entre 2000 e 2009

No conjunto dos países da UE, a percentagem de alunos com 15 anos na mesma situação é de cerca de 20 por cento. Androulla Vassiliou, comissária europeia da Educação e Cultura, reagiu assim a este resultado: "É totalmente inaceitável que tantos jovens na Europa continuem a não ter capacidades básicas de leitura e escrita. Isso coloca-os em risco de exclusão social, torna-lhes mais difícil encontrar um emprego e reduz a sua qualidade de vida".

Segundo a Comissão Europeia, é a primeira vez que se apresenta num estudo europeu um retrato aprofundado da literacia em leitura e se apontam alguns dos factores principais que têm impacto na aquisição e competências em leitura entre os 3 e os 15 anos.

Em relação aos alunos com 15 anos, o estudo baseia-se nos resultados alcançados por estes nos testes do Programme for International Student Assessment (PISA) de 2000 e de 2009, especialmente dedicados à literacia em leitura. Nestes testes, levados a cabo pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento, Portugal é um dos cinco países que sofreu uma evolução positiva neste intervalo. Os outros são a Holanda, Letónia, Polónia e Liechtenstein. À excepção da Letónia, os restantes quatro estão agora também abaixo da média europeia. Mas com resultados melhores que os portugueses. 

A Holanda e a Polónia fazem parte do pequeno grupo de países que já atingiu a meta que a UE se propôs chegar em 2020: reduzir para menos de 15 por cento a percentagem de maus leitores entre os alunos de 15 anos. A Dinamarca, a Estónia, Finlândia e Noruega, bem como a Bélgica flamenga, são os outros que já lá chegaram. Na Finlândia apenas oito por cento dos alunos com 15 anos têm problemas com a leitura.

A Bulgária e a Roménia estão na situação oposta e são os que apresentam piores resultados: 40 por cento dos seus alunos com 15 anos não atingem o nível dois dos testes PISA ou seja, ficam-se apenas pelas competências mais básicas.

O estudo hoje divulgado confirma que o género é um dos factores com mais impacto na aquisição de competências em leitura: “em média as raparigas ultrapassam os rapazes na leitura e esta diferença de género aumenta com a idade”. Aos 9 anos, 18 por cento das raparigas e 22 por cento dos rapazes têm dificuldades na leitura. Aos 15, o número de rapazes em dificuldades já duplica o das raparigas. Em média, 12 por cento das raparigas e 26 por cento dos rapazes são maus leitores nesta idade. O risco de um aluno português do sexo masculino ter dificuldades em leitura aos 15 anos é superior em duas vezes ao de uma aluna. Na UE a média desta probabilidade é de 1.9.

A situação dos alunos do 4º ano tem sido avaliada através de um estudo internacional em que Portugal não participou. Trata-se do PIRLS (Progress in International Reading Literacy Study). com inquéritos realizados em 2001, 2006 e 2011.

Para além do género, o outro factor com maior impacto na aprendizagem da leitura é a origem socioeconómica dos alunos.

Apesar de na maior parte dos países existirem programas de promoção da leitura, estes pecam por ser excessivamente generalistas. Ou seja, conclui o estudo não têm como destinatários aqueles que mais necessitam por serem os que apresentam maiores dificuldades, como são os casos dos rapazes, dos alunos oriundos de meios desfavorecidos e dos jovens imigrantes.

No estudo frisa-se que as dificuldades em leitura são ultrapassáveis, mas que este sucesso depende em grande medida destas serem identificadas, e adoptadas medidas, o mais cedo passível. Um ensino intensivo e por objectivos, ministrado a nível individual ou a pequenos grupos, pode ser particularmente eficaz, frisa-se. No entanto, acrescenta-se, “são poucos os professores que têm a oportunidade de se especializar nesta área”. Dos 27 países da UE, só em oito os professores contam, nas aulas, com o apoio de especialistas em dificuldade de aprendizagem na leitura.

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